Marcelo Brandão – Enviado especial da Agência Brasil
O juiz apita o final da primeira partida de futebol dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI) e Edilson, de apenas 15 anos, deixa o gramado lentamente. O menino da etnia Bororo Boe começou o dia vestindo uma camisa 10 qualquer, igual a de tantos que jogam em campos amadores Brasil afora, e saiu com um título só dele: autor do primeiro gol da primeira edição da competição.
“Me sinto alegre, emocionado por marcar o primeiro gol da história dos jogos mundiais. Viemos para tudo: pra competir e pra mostrar cultura, o que é o mais importante”. A timidez diante dos repórteres contrasta com a chuteira verde limão de marca famosa, igual a de profissionais, e com a determinação em campo, ao marcar dois gols na vitória por 7 a 2 contra os Assurini.
O futebol abriu o primeiro dia de disputas esportivas dos JMPI. Quando faltava técnica, a disposição assumia o lugar debaixo de um forte sol, em Palmas, capital do Tocantins. Torcedores tentavam se abrigar na pouca sombra disponível e o calor foi responsável por uma dança de copos de água, passados de mão em mão, no banco de reservas.
Os dois times do primeiro jogo mal deixaram o gramado, quando os Kayapó entraram em campo para enfrentar o time de indígenas do Panamá. A segunda partida do dia começou às 8h30 da manhã e os presentes assistiram a mais uma chuva de gols.
Com torcida pequena, mas vibrante, os panamenhos até tentaram pressionar no começo, mas logo sofreram um, dois, três gols e não parou aí: os Kayapó protagonizaram a segunda goleada do dia ao derrotarem por 6 a 0 o time panamenho.
A torcida local se misturava com os indígenas nas arquibancadas e a mistura de idiomas revelava que aquele não era um jogo comum: português, espanhol e Jê, a língua dos Kayapó, produziam uma atmosfera única.
Um homem gritava das arquibancadas pedindo a saída do goleiro do Panamá, que levou gols de cobertura e de chutes de longe: “Frangueiro! Tira esse goleiro!”, dizia o torcedor, provocando risos da torcida. Apesar do resultado, um pequeno grupo de panamenhos não se abatia e gritava a cada expectativa de gol de seus compatriotas – que acabou não acontecendo. Ao final, sorriso largo no banco de reservas do time alvirrubro brasileiro.
“A gente ainda tem que aprender muito, temos que trabalhar na aldeia, na roça, não temos tempo de treinar diariamente. Nosso futebol é estilo amador, nosso diferencial é esse, ter a cultura, os cantos”, disse Paté Kayapó. Ao final da goleada, o time de Paté se reuniu no centro do campo e dançou em bela comemoração à vitória.
Estão marcadas partidas de futebol masculino e feminino para todo o dia de hoje. As regras são as mesmas da Fifa, mas com cada tempo reduzido a 30 minutos. O sol e forte calor obrigou o árbitro da partida a realizar paradas técnicas durante os tempos, para hidratação dos atletas. A abertura oficial dos JMPI será amanhã, às 17h30. A programação do evento pode ser conferida na página dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas na internet.
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FONTE: Agência Brasil
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