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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Obras de arte vivas

ESPECIAL

02.02.2015

Com traços particulares, artistas visuais enveredam para o mercado de tatuagens criando uma nova relação com os clientes. Com forte identidade do criador, os desenhos ganham outros significados

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As irmãs Mariana Kuroyama e Isa Montenegro
FOTO: LUCAS DE MENEZES
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Kuroyama: "sinto que faço parte de uma tribo"
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Desenho e tatuagem feitos por Isa:“buscam minha identidade”
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O ilustrador busca sua identidade como tatuador
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Ramon Cavalcante tatuando: "É uma exploração artística"
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Tereza Dequinta: "Tatuar me deixa mais ansiosa do que só desenhar"
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O traço de Tereza é bem forte: "Eu gosto que seja exclusivo"
Decidir carregar um desenho pelo corpo costuma passar por alguns questionamentos, a maioria deles relacionados a histórias pessoais ou preferências estéticas. Após a escolha do desenho e todo o processo de marcá-lo na pele com tintas e agulhas, aquela imagem passa a fazer parte da sua identidade.
Porém, quando se escolhe um artista visual para criar e realizar uma tatuagem, esse desenho também traz características muito próprias daquela arte, sejam elas os traços, as cores ou as temáticas abordadas. Ou seja, o tatuado terá em si não só uma imagem que fala sobre ele mesmo, mas também uma espécie de obra assinada.
Essa associação direta entre o desenho e o artista, quando falamos de algo tão particular como a tatuagem, cria uma relação diferente da usual nesse meio. Deixa de ser somente a escolha de uma imagem a ser reproduzido ou reconstruído dentro das condições e propostas de um tatuador que domina diferentes técnicas.
Em Fortaleza, alguns artistas visuais encontraram na tatuagem uma nova relação com a criação. As irmãs Isadora Montenegro e Mariana Kuroyama, por exemplo, carregaram seus traços finos com referências orgânicas para as agulhas que desenham as peles.
"Quando comecei a tatuar eu procurei justamente trazer o meu desenho, tanto que não aprendi outros estilos. Antigamente, quando os tatuadores começavam, eles aprendiam todo tipo de técnicas como realismo, pontilhismo, 'old school'... E eu já fui direto aprendendo a passar o meu desenho para a pele de outra pessoa. A minha intenção sempre foi passar o meu traço para outras superfícies, como a pele", relembra Mariana, que tatua já há oito anos e desenha desde que aprendeu a segurar um lápis.
Obra com vida
A "nova superfície" também traz uma relação diferente e um outro olhar para essa arte. Isso porque o espaço deixa de ser estático e passa a ter cheiro, emoções e, principalmente, movimento. Deixa de ser somente contemplativo e se torna vivo!
"Sinto que é como ter um pouco de você caminhando por aí, mas é algo que eu não tenho mais propriedade. Se pinto a parede de alguém, nunca mais irei ver. Mas quando tatuo enxergo minha arte circular. Acho incrível saber que é uma criação com a minha assinatura, mas com a identidade de outra pessoa", observa Isadora, tatuadora há três anos.
As duas revelam que é grande o número de pessoas que as procuram dizendo que resolveram se tatuar principalmente pela identificação que têm com o traço delas. "As pessoas nos buscam por conta dessa identidade, embora não considero como algo meu, mas como uma referência de uma espécie de tribo", comenta Mariana.
Criação
Estudante de artes visuais e integrante do grupo de arte urbana Acidum junto com o namorado Robézio Marqs, Tereza Dequinta também retrata seus desenhos com forte identidade visual em forma de tatuagem.
Tereza já teve seus traços reproduzidos por outros tatuadores em algumas pessoas, mas resolveu aprender a técnica para levar seu trabalho autoral para além das paredes ou demais superfícies fixas. "É impressionante quando vejo pronto. É como se fosse um desenho animado. No papel é estático e na pele você vê se mexendo, o desenho pode ficar pequeno ou grande dependendo de como está a forma do corpo. Finalizar uma tatuagem me dá êxtase", revela Tereza.
Por ter um trabalho muito autoral, a relação entre um tatuador que é um artista visual e o cliente também foge do corriqueiro. "Acho que as pessoas entendem que é um outro processo. Não tem como tatuar ali, na hora, do nada. É um trabalho mais elaborado", orienta Tereza.
Arte
O ilustrador e designer gráfico Ramon Cavalcante também busca encontrar o seu traço dentro da técnica da tatuagem, como forma de explorá-la como linguagem.
Já tendo trabalhado com quadrinhos, ilustrações e desenho animado, ele passou um tempo dedicando-se a aprender mais a técnica do que necessariamente retratar seu traço. A ideia de levar algo "assinado" para as tatuagens é o que o atrai nessa nova empreitada. "Estou nessa de achar meu traço na tatuagem e isso é um processo muito subjetivo. Algumas pessoas até já reconhecem e veem coisas que até nem eu mesmo enxergo. Depois que tiver isso claro, eu quero pensar em exposições em corpos. Pensar em desenhos e achar um corpo para aquilo. Quero explorar como uma linguagem", reflete.
Ramon ainda pondera que, mesmo hoje bem enquadrada em um circuito comercial como um serviço de estética, a tatuagem não deixa de ter uma exploração artística.
"Não tenho a menor dúvida do quanto tatuagem é uma manifestação incrível de arte. Pela ancestralidade, pelas técnicas milenares, pelo ritual de marcar algo no corpo. Não tem porque negar uma camada artística a um processo de tatuagem, ele é mais íntimo, mais individual, mas nem por isso é menos impactante. Você conhecer uma pessoa e descobrir uma tatuagem no corpo é uma experiência muito similar de se impactar com um quadro. Para além da experiência da pessoa, ainda causa o impacto de qualquer obra, e é isso que me interessa", elabora.
Gabriela Dourado
Repórter


FONTE:
DIÁRIO DO NORDESTE

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