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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Adoção: existe hora certa para contar a verdade aos filhos?

Medo de perder a proximidade pode levar os pais à omissão; ideal é tratar o assunto com naturalidade e de forma afetuosa para evitar frustrações, afirma especialista

Adotar uma criança é um ato de amor. Disso, ninguém duvida. A única confusão que pode agitar a cabeça dos pais adotivos é o momento certo de contar a verdade ao filho. Afinal, como tratar de um assunto tão complexo sem deixar o pequeno, no mínimo, curioso sobre o seu passado? De que forma abordar a questão e com quantos anos ele já será capaz de compreender que precisava de um lar e a família, de um bebê para amar?

Não existe a hora certa para abrir o jogo, o ideal é contar a verdade o quanto antes, ainda na infância, defende o psiquiatra Nelson Goldenstein, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especializado em reconhecer jovens com afastamento social, o médico reforça que, apesar do medo de como o filho vai se comportar diante da situação, esconder a sua história não é saudável.

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“Em geral, o melhor caminho para um bom relacionamento e maior desenvolvimento da formação da personalidade e da educação, é a comunicação direta e livre”, garante Goldenstein. Na avaliação do médico, os pais devem agir com sinceridade, independentemente da idade que o pequeno tinha quando passou a dividir o mesmo lar. “Quando a adoção é mais tardia, as evidências e a memória nem sequer permitem a omissão”, pondera.
 

Apesar da tranquilidade com a qual o profissional trata o assunto, adoção é um tema difícil de ser abordado com uma criança. As dúvidas da mãe e do pai sobre quando e como falar que não são biológicos, mas de coração, fazem muitos deles protelarem a conversa. Um comportamento inadequado, na opinião do especialista.

Segundo o psiquiatra, não é necessário, muito menos aconselhável, fugir da situação. Basta adotar uma linguagem acolhedora e honesta. “No tom da verdade afetuosa, sem pieguices. Sempre procurando mostrar que a adoção foi uma atitude de amor”, orienta. E é importante que os pais cumpram este papel para evitar que o pequeno saiba por terceiros e se sintam traídos.

Espontaneidade para abordar o tema 
Tratar a questão com naturalidade. Esta é a dica para evitar frustrações de ambos os lados. “O assunto deve ser discutido com espontaneidade para que a criança não se sinta internamente inferior por conta disso”, reforça o médico, que lida diariamente com casos de crianças e adolescentes com mudanças de comportamentos gerais.

E é exatamente assim que a fisioterapeuta Ana Paula Gusmão, 47 anos, decidiu agir quando adotou a única filha. “Desde muito pequenininha, falamos que o ‘papai do céu’ nos deu o maior presente do mundo quando a adotamos ainda bebê”, conta Ana, que se submeteu a diversos tratamentos de fertilidade antes de optar pela adoção.

Com apenas seis aninhos, Rebecca Gusmão Araújo parece ter maturidade suficiente para entender que a mãe não esperou a barriga crescer nove meses para ela nascer. “Quando começou a ir à escola, surgiu a dúvida de como ela veio ao mundo. A professora me avisou e conversamos sobre o assunto de forma natural para ela não se sentir diferente por ser adotada. Ela parece compreender com tanta facilidade que até nos assusta”, revela a fisioterapeuta.
 
Quando o preconceito parte da família
A facilidade que a família da pequena Rebecca tem ao tratar da adoção é completamente diferente do cenário vivido pela publicitária Amanda Silva, 26 anos. Ela cresceu sabendo que a mãe biológica não teve condições financeiras para criá-la. Os pais adotivos a trouxeram do Ceará com quase um ano de idade e não esconderam a verdade dos vizinhos, mas o assunto entre as amiguinhas da rua sempre foi proibido.

“Entendo que minha mãe só queria me proteger quando pedia para eu não ficar falando da minha vida. Ela tinha medo que eu sofresse por conta do preconceito”, comenta Amanda, ao afirmar que nunca imaginou outras pessoas ocupando em sua vida os papéis de mãe e pai. “Sempre tive muito amor aqui. Eles são meus pais".

Apesar de sentir-se em um ambiente confortável, a forma como a mãe adotiva da comunicadora conduziu a história está longe de ser adequada, aponta Goldenstein. O psiquiatra alerta que o preconceito pode estar dentro de casa. “Entre aqueles que vivem uma realidade afastada deste tema. Mesmo entre pessoas mais próximas, como familiares e amigos que, frequentemente, tratam o assunto como se ele não existisse”, observa. 

Falar sobre os ‘pais de sangue’ é tabu
De origem simples, os pais de Amanda nunca tiveram de conviver com o desejo da filha de conhecer o pai e a mãe ‘de sangue’, uma fase que o médico caracteriza como “o maior tabu” entre as pessoas que decidem adotar. “Sob verdadeiro pânico, os pais mentem ou evitam a todo custo falar sobre o assunto, temendo que uma aproximação vá enfraquecer a relação afetiva entre filhos adotivos”, explica.

Mas esta crise existencial parece não passar pela cabeça da publicitária. “Não julgo ninguém pelo o que aconteceu no passado, simplesmente aconteceu e isso não muda quem eu sou. Já tive curiosidade, mas passou. Tive medo de cutucar e machucar meus pais. Agora que estão idosos, vou cuidar deles como cuidaram de mim. E nossa vida é normal, sempre foi, com gato e papagaio de estimação”, brinca a jovem.

Adotivos X biológicos
Apesar de todos os cuidados que cercam o processo de adoção, nem todas as pessoas estão preparadas para assumir tamanha responsabilidade. E tratar um filho adotado de maneira diferenciada dos biológicos – seja para o bem ou para o mal – pode comprometer o desenvolvimento, ressalta Goldenstein.

“Muitas vezes, casais que não conseguem engravidar adotam uma criança. Anos depois, a mãe fica grávida e não consegue tratar os filhos da mesma forma. Quando isso acontece, podemos dizer que pode ser desastroso para a formação da criança adotada”, enfatiza o especialista, ao deixar claro que quando o assunto não é bem resolvido, pais e filhos sofrem, “cada um da sua forma”, e o sonho de uma família perfeita pode cair na frustração.


FONTE: YAHOO

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